Venho me perguntando, como será daqui a 10 anos,
quando na escola, minhas filhas tiverem que falar sobre a epidemia
silenciosa que marcou os seus últimos 40 anos. Ainda não sei como contar
a minha caminhada a elas, pois a parte que deixou as pegadas da
solidão, resignação e tristezas, foi também a mesma que matou a menina
maravilhosa que eu era. Até hoje sofri calada meus anseios. Sem coragem
de gritar a verdade até para família. É na aids que as pessoas se
escondem com lágrimas contidas, com pensamentos velados, com palavras
não ditas, com a renuncia de si mesmas e eu faço parte delas.
Meus pais morreram no início dos anos 2000, e foi nesta época que
contraí o HIV. E eu não me encaixava em nenhum perfil, até então citado
por eles, sobre pessoas “aidéticas”. Fui sorteada nesta roleta russa.
Noitadas e muita cocaína, tudo seguido de muito sexo, extremamente
desprotegido de valores e pudores, passaram a fazer parte dos meus dias e
o efeito colateral desse coquetel durou por quase 5 anos.
Resolvi dar a volta por cima e decidi conhecer o “bicho papão” que
habitava minhas células de defesa. Parei com os vícios e tudo mais. Pela
primeira vez procurei um posto de saúde. Eu desejava ser mãe! Eu não
sabia nada sobre a aids, muito menos sobre transmissão vertical. Em 2005
consultei um clínico geral, que me questionou: como eu achava que eu
tinha o direito de engravidar? Que tipo de “subvida”, foi a palavra que
ele usou, que eu pensava em dar para uma criança? Saí de lá arrasada sem
saber quem estava sendo mais ignorante, se eu ou aquele “médico”.
Graças a minha persistência cheguei ao infectologista, onde foram
esclarecidas minhas dúvidas e onde eu fui incentivada à maternidade.
Meu marido e eu renascemos no ano de 2007, no dia em que nossa
primeira filha nasceu, e juntamente com uma nova maneira de enfrentar o
HIV. Até então, nunca tínhamos ouvido falar em pessoas bem vividas
portadoras desta síndrome e, sempre que este assunto surgia, era em
função da morte do fulano ou do beltrano, aquele “aidético”. Além de
tudo, também tinha a impressão de que eu era a única pessoa que não
tinha a inscrição “aids” na testa. Quantos erros! “A aids não tem cara”.
Este é o início do fim, e não importa a forma de contágio, o que está
em jogo é a derrubada desse muro que divide a vida após estar soro
positivo para HIV.
Já se passaram 8 anos, é Maio de 2009 e estou mais viva do que nunca,
em meu ventre mais uma prova de que minha história continua e que, a
partir de agora, tenho o incentivo necessário para transformar o futuro
desse tema, até então, ofuscado pelo brilho do meu próprio preconceito.
Ano 2020. Que bela redação minhas filhas apresentaram na escola. Uma
história cheia de esperança: - elas contaram com orgulho como eu evitei o
contágio vertical a elas. As tristezas ainda existem, é claro, mas,
como tantas outras doenças, a AIDS passou a ser citada com mais
naturalidade, e quanto ao preconceito... As filhas da aids foram
aplaudidas de pé.
FONTE: DST/AIDS
CONVIVER COM HIV-AIDS NÃO SENTÊNCIA á morte ; o preconceito sim !!! e quando não aceitamos é pior ainda ,estamos nos dando a chance da sentença de morte .convivo com o virus há 16 anos passeo a usar o coquetel a 6 anos .nem por isso estou caracterizada para os ignorantes que sou á aids ambulante .
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