segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

RELATO NA ÍNTEGRA DE PESSOAS QUE VIVEM E CONVIVEM COM HIV/AIDS!!!!!!!!!!!

Venho me perguntando, como será daqui a 10 anos, quando na escola, minhas filhas tiverem que falar sobre a epidemia silenciosa que marcou os seus últimos 40 anos. Ainda não sei como contar a minha caminhada a elas, pois a parte que deixou as pegadas da solidão, resignação e tristezas, foi também a mesma que matou a menina maravilhosa que eu era. Até hoje sofri calada meus anseios. Sem coragem de gritar a verdade até para família. É na aids que as pessoas se escondem com lágrimas contidas, com pensamentos velados, com palavras não ditas, com a renuncia de si mesmas e eu faço parte delas.
Meus pais morreram no início dos anos 2000, e foi nesta época que contraí o HIV. E eu não me encaixava em nenhum perfil, até então citado por eles, sobre pessoas “aidéticas”. Fui sorteada nesta roleta russa. Noitadas e muita cocaína, tudo seguido de muito sexo, extremamente desprotegido de valores e pudores, passaram a fazer parte dos meus dias e o efeito colateral desse coquetel durou por quase 5 anos.
Resolvi dar a volta por cima e decidi conhecer o “bicho papão” que habitava minhas células de defesa. Parei com os vícios e tudo mais. Pela primeira vez procurei um posto de saúde. Eu desejava ser mãe! Eu não sabia nada sobre a aids, muito menos sobre transmissão vertical. Em 2005 consultei um clínico geral, que me questionou: como eu achava que eu tinha o direito de engravidar? Que tipo de “subvida”, foi a palavra que ele usou, que eu pensava em dar para uma criança? Saí de lá arrasada sem saber quem estava sendo mais ignorante, se eu ou aquele “médico”. Graças a minha persistência cheguei ao infectologista, onde foram esclarecidas minhas dúvidas e onde eu fui incentivada à maternidade.
Meu marido e eu renascemos no ano de 2007, no dia em que nossa primeira filha nasceu, e juntamente com uma nova maneira de enfrentar o HIV. Até então, nunca tínhamos ouvido falar em pessoas bem vividas portadoras desta síndrome e, sempre que este assunto surgia, era em função da morte do fulano ou do beltrano, aquele “aidético”. Além de tudo, também tinha a impressão de que eu era a única pessoa que não tinha a inscrição “aids” na testa. Quantos erros! “A aids não tem cara”.
Este é o início do fim, e não importa a forma de contágio, o que está em jogo é a derrubada desse muro que divide a vida após estar soro positivo para HIV.
Já se passaram 8 anos, é Maio de 2009 e estou mais viva do que nunca, em meu ventre mais uma prova de que minha história continua e que, a partir de agora, tenho o incentivo necessário para transformar o futuro desse tema, até então, ofuscado pelo brilho do meu próprio preconceito.
Ano 2020. Que bela redação minhas filhas apresentaram na escola. Uma história cheia de esperança: - elas contaram com orgulho como eu evitei o contágio vertical a elas. As tristezas ainda existem, é claro, mas, como tantas outras doenças, a AIDS passou a ser citada com mais naturalidade, e quanto ao preconceito... As filhas da aids foram aplaudidas de pé.

FONTE: DST/AIDS

Um comentário:

  1. CONVIVER COM HIV-AIDS NÃO SENTÊNCIA á morte ; o preconceito sim !!! e quando não aceitamos é pior ainda ,estamos nos dando a chance da sentença de morte .convivo com o virus há 16 anos passeo a usar o coquetel a 6 anos .nem por isso estou caracterizada para os ignorantes que sou á aids ambulante .

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